Peter Gast |
quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024
A amizade e a colaboração intelectual entre Peter Gast e Nietzsche
quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024
Recomeços...
segunda-feira, 11 de setembro de 2023
Setembro Amarelo
quarta-feira, 30 de agosto de 2023
Aforismos
Por definição, "aforismo é qualquer forma de expressão sucinta de um pensamento moral. Do grego “aphorismus”, que significa “definição breve”, “sentença”.
A escrita por meio de aforismos é a grande marca do trabalho filosófico de Nietzsche. Boa parte de seus escritos são aforísticos e fragmentados e sintetizam grandes reflexões. Nietzsche escreve conforme as coisas vem à sua mente.
Nietzsche tinha o claro objetivo de fazer com o que o leitor "ruminasse" de forma lenta e consistente cada aforisma e assim compreendesse o que está sendo colocado, não como uma algo inquestionável mas, como algo a ser pensado.
O filósofo alemão tece sua crítica à toda a estrutura do pensamento Ocidental, pois para ele trata-se da história de um erro. Para Nietzsche a base do pensamento socrático-platônico, a moral, o Cristianismo e o sentido de bem e mal adoeceram o ser.
Em sua II Consideração Intempestiva (1874), ele afirma que a essência de sua profissão enquanto filólogo, é:
"Agir contra a sua época, sobre sua época, e em benefício de uma época vindoura".
Assim, Nietzsche molda sua forma de pensar totalmente fora da caixa.
Em seu livro Aurora (1886), Nietzsche expressa em seu prefácio a forma e o cuidado que o leitor deve ter em relação a seus textos:
[...] Este prefácio chega tarde, mas não demasiado tarde; que importam,
por fim, cinco ou seis anos? Tal livro e tal problema não têm pressa; e,
além disso, nós somos amigos do ‘lento’, eu, assim como o meu livro. Não
fui, em vão, filólogo, e ainda o sou talvez. Filólogo quer dizer mestre na
leitura lenta, e que acaba por escrever lentamente. Mas não é que seja isto
somente um hábito em mim, é um prazer mau, um prazer maligno talvez?
Não escrever outra coisa senão o que poderia desesperar aos homens que
‘se apressam’. Pois a filologia é essa arte venerável que antes de tudo exige
uma coisa de seus admiradores: manter-se à parte, ir devagar, tornar-se
silencioso, tornar-se lento; como uma arte de ourivesaria e uma perícia no
conhecimento da ‘palavra’, uma arte que exige um trabalho delicado e que
não realiza nada se não trabalhamos com lentidão. [...] Esta arte, a que
me refiro, não termina facilmente nada; ensina a ler ‘bem’, quer dizer, a
ler de trás para frente, a ler devagar, com profundidade, com pensamentos
íntimos, com dúvidas e precauções, com dedos e olhos delicados... Amigos
pacientes, este livro somente pede leitores e filólogos perfeitos: ‘aprendei’
a ler-me bem".
A intenção de Nietzsche ao lançar suas ideias por meio de aforismos é justamente instigar seus leitores a pensarem, a lançarem questionamentos a respeito do que é lido, é pensar profundamente a respeito de algo. Inclusive, nos dias atuais esse método de leitura precisa ser restaurado.
E como disse Nietzsche no prólogo de sua Genealogia da Moral: "Nossos tesouro está na colmeia de nosso conhecimento. Estamos sempre voltados a essa direção, pois somos insetos alados da natureza, coletores do mel da mente."
quarta-feira, 23 de agosto de 2023
"Eu sou vários"
"Eu sou vários! Há multidões em mim. Na mesa de minha alma sentam-se muitos, e eu sou todos eles. Há um velho, uma criança, um sábio, um tolo. Você nunca saberá com quem está sentado ou quanto tempo permanecerá com cada um de mim. Mas prometo que, se nos sentarmos à mesa, nesse ritual sagrado eu lhe entregarei ao menos um dos tantos que sou, e correrei os riscos de estarmos juntos no mesmo plano. Desde logo, evite ilusões: também tenho um lado mau, ruim, que tento manter preso e que quando se solta me envergonha. Não sou santo, nem exemplo, infelizmente. Entre tantos, um dia me descubro, um dia serei eu mesmo, definitivamente. Como já foi dito: ouse conquistar a ti mesmo".
Há muitos anos este pensamento anda comigo. Ele expressa toda a pluridade do ser humano, com seus altos e baixos, angustias e alegrias e o próprio reconhecimento de que temos um lado mau e que em alguns casos nos envergonham.
Por muitos anos acreditei que esta máxima teria sido escrita por Nietzsche. Entrtando, neste tempo que dedico à pesquisa dos ecritos de Nietzsche, numca encontrei esta passagem.
Procurei por muito tempo, e só agora percebí que estava às voltas no local errado. Acabei descobrindo sem querer ao assistir um vídeo da filósofa brasileira Scarlett Marton, cujo tema tratado era "Niilismos".
Pois bem, quem escreveu esta máxima foi o escritor português Fernando Pessoa por meio de seu heterônimo "Ricardo Reis".
É muito interessante perceber Fernando Pessoa aos olhos da Psicanálise, pois ele criou seus heterônimos e cada um tinha personalidade própria, inclusive com data de nascimento e de morte. Mas não para por aí.
"Por exemplo, consta que Ricardo Reis nasceu em Porto, Portugal, no dia 19 de setembro de 1887. Estudou em colégio de jesuítas e formou-se em medicina. Ricardo Reis era monarquista e exilou-se no Brasil, em 1919, por discordar da Proclamação da República Portuguesa. Foi profundo admirador da cultura clássica, tendo estudado latim, grego e mitologia. Sóbrio e claro, sustenta a convicção de que o único caminho a se tomar na vida é o de afrontar a sorte com o silêncio.
{...}
A ideia desenvolvida em sua obra faz parte do pensamento Greco-romano: clareza, equilíbrio, as boas formas de viver, o prazer e a serenidade. Além do epicurismo, Ricardo Reis possuía o estoicismo também como influência, que propõe a aceitação do acontecimento das coisas e a rejeição às emoções e sentimentos exacerbados".
Um ponto interessante é que na biografia de Fernando Pessoa não é localizada a data da morte de Ricardo Reis. Mas o escritor brasileiro José Saramago em seu livro "A morte de Ricardo Reis" a situa em 1936.
Às vezes, quando penso em Fernando Pessoa, algo me liga ao filme "Fragmentado". Neste filme o personagem principal, Kevin (James McAvoy), possui 23 personalidades distintas. No caso do filme, Kevin tem o que a medicina chama de Transtorno dissociativo de personalidade. Este transtorno apresenta incapacidade de recordar eventos diários, informações pessoais importantes ou eventos traumáticos ou estressantes, todo os quais tipicamente não seriam normalmente perdidos com o esquecimento normal. A causa é quase invariavelmente trauma opressivo na infância. Mas está é uma área que a Psicanálise não pode atuar.
Em essência a Psicanálise, ou melhor, seu método terapeutico age por meio de lembranças trazidas à tona, ou seja, um processo investigativo onde a lucidez das lembranças constroem um panorama e a partir daí o processo é estartado. Por esse motivo não temos objeto de estudo com uma pessoa com transtorno dissociativo de personalidade.
Voltando a Fernando Pessoa, não acredito que ele tivesse esse transtorno. Acredito sim que ele foi um escritor genial, com um modo de pensar múltiplo, típico dos pensadores de sua época.
Fernando Pessoa construiu 25 heterônimos, que são: Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis, António Mora, Charles James Search, Alexander Search, António Seabra, Barão de Teive, Bernardo Soares, Carlos Otto, Charles Robert Anon, Coelho Pacheco, Faustino Antunes, Frederico Reis, Frederick Wyatt, Henry More, I. I. Crosse, Jean Seul, Joaquim Moura Costa, Maria José, Pantaleão, Pêro Botelho, Raphael Baldaya, Thomas Crosse e Vicente Guedes.
Assim, só um mestre na escrita como Fernando Pessoa, para construir heterônimos tão únicos.
Mais um mito desfeito, e dessa vez foi extremamente positivo pois pude ter o prazer em iniciar meu mergulho nas obras de Fernando Pessoa, e ele sim, foi vários!