domingo, 16 de setembro de 2018

Estratégia para ler Nietzsche

Nos últimos meses tenho lido muito material a respeito de Nietzsche. Nestes materiais deparei-me com romances ficcionais, biográficos e artigos acadêmicos.


No meio de todo este conteúdo, dei-me conta do quanto Nietzsche é mal interpretado, mal compreendido e muitas vezes descaracterizado. Isso me trouxe uma sensação de mal estar, como que se eu tivesse que fazer algo para amenizar isso.

Estou ciente de minha pretensão e do quanto isso é denso.

Por isso, os últimos três artigos que escrevi  (Termos Nietzscheanos 1, Termos Nietzscheanos 2, Termos Nietzscheanos 3) são voltados para que os leitores do meu blog entendam melhor alguns dos principais termos usados por Nietzsche através de toda a sua produção filosófica.

Uma questão que surgiu posteriormente, inclusive porque algumas pessoas me questionam, é se existe alguma ordem a ser seguida para ler Nietzsche, e o que eu respondo sempre é que na prática não existe. O que existe é que se você fizer uma busca pela internet você até encontra, mas são um tanto quanto confusas.

Um exemplo disso são pessoas que acabam lendo em primeiro lugar, o livro "Assim falou Zaratustra" o que em minha opinião é um erro pois, para  ler este livro é preciso compreender primeiramente a filosofia de Nietzsche, caso contrário a pessoa vai achar um livro no mínimo "doido" e sem muito sentido. Quando na verdade é um livro belíssimo, chegando a ser o apogeu dentre tudo o que o filósofo acreditava.

Por esse motivo, no artigo de hoje, me proponho a fazer uma lista com os livros de Nietzsche em uma ordem que possibilita um melhor entendimento de leitura, e não em ordem cronológica, como habitualmente encontramos.

Entendo que esta é uma forma mais precisa para pegar um certo "fio de meada", se é que isso é possível, dentro do denso mundo filosófico de Nietzsche.

Antes, porém, gostaria de mencionar uma frase um tanto quanto impactante a respeito de Nietzsche, mencionada por Martin Heidgger, que diz o seguinte:

"Nietzsche é o primeiro pensador que, perante a história universal
pela primeira vez aflorada em seu conjunto, coloca a pergunta
decisiva e a reflete internamente em toda a sua extensão metafísica.
Essa pergunta reza: 'Como homem, em sua essência até aqui, está
o homem preparado para assumir o controle da terra?'".

E com esta citação, que nos trás um questionamento fortíssimo, é que eu deixo a dica para quem está iniciando o conhecimento da filosofia de Nietzsche de que é melhor ir acostumando-se pois o que vem pela frente é do mesmo modo impactante e faz-nos refletir sobre absolutamente tudo. Não foi à toa que em determinado momento, o filósofo chega a afirmar, "eu não sou um homem, sou uma dinamite".

E assim Nietzsche seguiu dinamitando e martelando todos os preceitos morais da sociedade ocidental. E olha que ele não poupa ninguém em absoluto.

Agora, segue abaixo a lista dos livros. Repito, não estão em ordem cronológica, mas sim em uma ordem que pode gerar uma melhor compreensão da obra do autor como um todo.

Ordem de leitura

1 - "O Crepúsculo dos Ídolos, ou como Filosofar com o Martelo". (1888)
       Este livro foi escrito entre agosto e setembro de 1888. 
     
       Título em alemão - Götzen -Dämmerung, oder Wie man mit dem Hammer philosophiert.


2 - "Para Além do Bem e do Mal, Prelúdio a uma Filosofia do Futuro". (1886)
       Escrito pela necessidade de que o livro "Assim falou Zaratustra"fosse entendido.
     
       Título em alemão - Jenseits von Gut und Böse, Vorspiel ciner Philosophie der Zukunft.


3 - "Genealogia da Moral, uma Polêmica". (1887)
      Escrito para explicar o livro "Para Além do Bem e do Mal, Prelúdio a uma Filosofia do Futuro".
   
      Título em alemão - Zur Genealogie der Moral, Eine Streitschrift


4 - "A Gaia Ciência" e também traduzido como "Alegre Sabedoria". (1882)
       
      Título em alemão"Die fröhliche Wissenschaft"


5 -"Humano, Demasiado Humano, um livro para Espíritos Livres". (1886, versão final)
       A primeira parte deste livro foi publicada em 1878 e complementada com o título "Opiniões e Máximas" em 1879 e com o texto "O Andarilho e sua Sombra" em 1880.
       A versão final, como tem o título atual foi publicada em 1886.
 
    Título em alemão - "Menschiliches, Allzumenschliches, Ein Buch für freie Geister"


6 - "Aurora, Reflexões sobre Preconceitos Morais". (1881)

       Título em alemão - "Morgenröte, Gedanken über die moralischen Vorurteile."


7 - "Assim Falou Zaratustra, um Livro para Todos e para Ninguém". (1885)
       Escrito entre 1883 e 1885.

       Título em alemão - "Also Sprach Zarathustra, Ein Buch für Alle und Keinen".


8 - "Ecce Homo, de Como a Gente se Torna o que a Gente é" (1908)
        Escrito entre outubro e novembro de 1888 (biográfico) e publicado postumamente em 1908.

        Título em alemão - "Ecce Homo, Wie man wird, was man ist".


9 - "O Anticristo - Praga contra o Cristianismo". (1888)
        Escrito em setembro  de 1888.

        Título em alemão - "Der Antichrist - Fluch auf das Christentum".


10 - "O Nascimento da Tragédia no Espírito da Música". (1872 e 1886)
        Publicado em 1872 e reeditado em 1886 com o título "O Nascimento da Tragédia ou
        Helenismo e Pessimismo", acrescido de um prefácio autocrítico.

        Título em alemão - "Die Geburt der Tragödie aus dem Geiste der Musik" 
                                    "Die Geburt der Tragödie, Oder: Griechentum und Pessimismus".


11 - "A Filosofia na Idade Trágica dos Gregos" (1873)
         Ao que tudo indica, foi escrito em 1873 mas, publicado somente após a morte de Nietzsche. 

          Título em alemão - "Philosophie im tragischen Zeitalter der Griechen  


12 - "Cinco Prefácios para Cinco livros não Escritos" (1872)

          Título em alemão -  "Fünf Vorreden zu fünf Bücher nicht geschrieben"


13 - "Considerações Extemporâneas ou Considerações Intempestivas" 
          Escrito entre 1873 e 1876
         
          Título em alemão - "Unzeitgemässe Betrachtungen"
       
          Trata-se de uma série de quatro artigos de um total de treze planejados.
          Na verdade é uma crítica aberta à modernidade da cultura européia e principalmente alemã.

       - "David Strauss, Confessor e Escritor" (1873)

          Título em alemão - "David Strauss, Beichtvater und der Schiriftsteller".

       - "Dos Usos e Desvantagens da História para a Vida" (1874)

          Título em alemão - "Vom Nutzen und Nachteil der Historic für das Leben".

       - "Schopenhauer como Educador" (1874)

           Título em alemão - "Schopenhauer als Erzieher".

       - "Richard Wagner em Bayreuth" (1876)

           Título em alemão - "Richard Wagner in Bayreuth".


14 -  "O caso Wagner, um Problema para Músicos"
           Escrito entre maio e agosto de 1888

          Título em alemão - "Der Fall Wagner, Ein Musikanten-Problem".


15 -  "Nietzsche contra Wagner". (Dezembro de 1888)

           Título em alemão - "Nietzsche gegen Wagner, Aktenstücke eines Psychologen".


16 -  "Ditirambos a Dionisio" (1891)
          Trata-se de uma compilação de poemas publicado após Nietzsche perder os sentidos.

          Título em alemão - "Dithirambos zu Dionysius".


Não relacionei aqui o livro "Vontade de Potência" pois atualmente este não é mais considerado como livro escrito por Nietzsche. Trata-se de uma fraude montada por sua irmã Elisabeth Förster Nietzsche.

Nos próximos artigos tecerei comentários a respeito de cada livro.

Espero que vocês aproveitem essa disposição de leitura em Nietzsche, é óbvio que não é obrigatória, mas foi a melhor forma que encontrei para compreender as ideias fascinantes e por vezes cáusticas, deste filósofo que me prende tanto a atenção.

Até breve!