"Precisamos resolver nossos monstros secretos, nossas feridas clandestinas, nossa insanidade oculta."
Michel Foucault (1926-1984)
Resolví iniciar este artigo com um pensamento forte de Foucault a respeito de saúde mental. Esta ideia está diretamente ligada ao mês do Setembro Amarelo. Mas qual o significado do Setembro Amarelo?
O mês de setembro é dedicado à conscientização sobre problemas mentais e em especial, à prevenção do suicídio. No dia 10 de setembro temos o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, que no Brasil foi instituído no ano de 2015.
Esta data é mundial e foi criada em função do suicídio do jovem estadunidense Mike Emme, de apenas 17 anos. Mike era considerado um jovem normal, sem problemas aparentes, e que tinha como hobby restaurar seu Mustang amarelo. No dia 10 de setembro de 1994, Mike suicidou-se dentro de seu caso, o que causou choque e comoção à sua família e amigos.
Desde a primeira vez que lí a respeito desta triste história, me pergunto sempre quantos "Mikes" existem mundo à fora, que sofrem em silêncio por medo de expor o que sentem e serem considerados fracos ou insanos.
Em todos os artigos relacionados à Saúde Mental que escrevo, faço questão de frisar o grande problema que enfrentamos em relação ao TABU que foi instituído em torno deste tema. Por este motivo as pessoas tem medo do tema, sabem muito pouco a respeito e querem saber menos ainda.
Quando desenvolvi um trabalho em meu Mestrado em Psicanálise referente à "Saúde Mental no Mundo Pós Pandemia", usei como base o livro "A História da Loucura na Era Clássica" de Michel Foucault. Este livro acabou por me despertar uma ampla visão a respeito do tema pois a "doença mental" foi tratada por muito tempo como algo degradante, que fazia com que as pessoas fossem ostracizadas, internadas, colocadas no mesmo nível de criminosos. Doentes mentais eram considerados párias da sociedade e, por isso mesmo até hoje a maioria das pessoas encontra dificuldade em assumir que tem problemas mentais e, principalmente, hesita em procurar ajuda especializada.
Mas para tratar de algo precisamos entender seu siginificado. Assim, o que é Saúde Mental?
Definir saúde mental não é tão fácil quanto definir saúde física. Quando se trata desta última, pode-se dizer que a ausência de doenças, dores, indisposições já carateriza a saúde física. Mas e quando as coisas acontecem na mente, de forma invisível, muitas vezes nem percebida pelo doente? Por isso é premente a necessidade de ficar atento aos sinais que você sente e sentindo algo diferente, procure ajuda.
É necessário frizar aqui que existe uma forte diferença entre os termos TRANSTORNO MENTAL e DOENÇA MENTAL. Falar de doença mental é algo bem específico. Parte-se do princípio que existe uma causa, um diagnóstico, um tratamento, ou seja, um esquema padronizado para lidar com a situação do doente. Transtorno mental é uma classificação mais genérica, mais ampla, e por ser multifatorial, abrange uma tragetória diagnóstica que varia de pessoa para pessoa e com tratamentos diversos.
Mas o diagnóstico, qualquer que seja, necessita primeiramente que as pessoas vençam o preconceito. Vemos casos em que os transtornos mentais, por desconhecimento, são vistos como "fraquezas" do indivíduo, sobre as quais ele poderia atuar e não o faz. Outras dizem ser falta de "deus", carência e assim por diante. Logo, se a pessoa não precisa de nada, não tem porque ter um transtorno.
Para mudarmos essa visão errônea, o combate ao preconceito é essencial.
Preconceito é, em essência, julgamento prematuro, ou seja, julgamos sem conhecer as coisas em sua plenitude.
Combater o preconceito, portanto, passa por estabelecer uma convivência entre as pessoas ditas "diferentes", para que elas possam conhecer-se melhor e saber que cada um tem seu "jeito de funcionar" e que o jeito do outro não precisa ser igual ao meu para que eu o respeite.
Deste modo, é muito importante buscarmos maiores informações sobre saúde mental e saber respeitar a dor do outro. Por mais que a teus olhos possa parecer mimo o que alguém sente, lembre, se essa pessoa está falando de sua dor, é porque ela precisa de ajuda.
Sejamos mais empáticos com as pessoas a nossa volta e principalmente com você mesmo, só assim conseguiremos virar este jogo, e aos poucos, vamos implodindo este senso comum em volta do Tabu em relação à Saúde Mental.
Até breve!
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